Encontrar um médico para acompanhar a gravidez e ajudar a trazer seu filho ao mundo não é tarefa fácil. Não basta um profissional gabaritado, é preciso ter empatia, segurança e confiança nesse especialista que será um companheiro durante os nove meses.
Assim que o exame de gravidez dá positivo é acionado o cronômetro de expectativas (e uma boa dose de preocupação!) em relação aos próximos meses. Um ponto de interrogação na cabeça vira companheiro em relação a tudo: os enjoos, o tamanho da barriga, a alimentação, o parto e por aí vai. Por isso, nessa jornada de tantas incertezas (mas muito mais alegrias), o obstetra tem papel fundamental: tanto para sanar as dúvidas que chegam a tirar o sono de muitas grávidas – e dos futuros pais também – quanto para acompanhar a saúde da mãe e do bebê. Só que escolher esse profissional não é fácil. Como saber se o médico é capacitado e se atualiza sempre, se conduzirá o parto de forma segura e do jeito desejado ou estará disponível nos momentos em que for solicitado, principalmente no grande dia?
Embora pareça óbvio, não é raro ouvir casos em que a mulher não pôde contar com o médico no nascimento do bebê, como aconteceu com a publicitária Lorena Dias, mãe de Clara, de 6 anos. “Quando minha bolsa estourou, liguei para o consultório dele, já que o celular estava na caixa postal, e fui informada que ele tinha viajado e era para eu contatar outro profissional da equipe, de quem nunca tinha ouvido falar”, diz. Com ausência de dilatação e contração, as enfermeiras do hospital disseram que o bebê nasceria por meio de uma cesárea, diferente do que havia planejado. “Nunca mais fui lá, pois achei inadmissível ele viajar durante a data prevista para o parto e sequer avisar para que eu decidisse correr o risco de ficar sem ele ou trocar de médico”, conta.
O abandono do obstetra, aliás, é uma preocupação constante das gestantes. Um estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, com o objetivo de medir os níveis de medo em relação ao parto, constatou que o receio de serem esquecidas pelo especialista no meio da gravidez é a maior preocupação das mulheres. Segundo Lee Roosevelt, coautora da pesquisa, essa apreensão não é saudável e pode desencadear complicações relacionadas ao nascimento do bebê, como a necessidade de uso de remédios para indução do parto ou até mesmo uma depressão. Para ela, uma forma de evitar esse problema é criar um canal aberto entre médico e paciente e, sobretudo, tentar acertar na escolha. Veja, a seguir, o que deve ser observado.
Recrutamento e seleção
Para achar um bom profissional, peça indicações. Se já tem um ginecologista que é obstetra, pergunte para as pacientes dele, enquanto aguarda a consulta, por exemplo, como foi a experiência delas. Agora, se não tiver ninguém em vista ou quer trocar seu médico atual, converse com amigos e outras mães, assim como fez a empresária Roberta Socolowski, 33 anos, grávida de nove meses. “Eu quero ter um parto humanizado, então pedi referências para os pais que tiveram seus filhos dessa maneira”, conta. Também analise o currículo do candidato com cautela, como se estivesse selecionando alguém para uma vaga de emprego. Busque informações sobre a formação, cursos e veja se o pretendente tem título de especialista fornecido pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Verifique ainda se ele fez residência na área, se possui vínculos com hospitais e universidades ou se está à frente de entidade ou grupo de gravidez e parto. Isso pode ser um diferencial na hora da escolha.
Obstetra no divã
Com essas informações em mãos, é hora de marcar a primeira consulta. Nesse momento é preciso ser transparente e deixar claro as expectativas sobre o nascimento do bebê. Se o desejo for pelo parto normal, por exemplo, não dá para eleger um profissional que tem em seu currículo a maioria dos partos cesárea. Para ter essa informação com precisão, os pais podem fazer valer a Resolução Normativa nº 368, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O documento diz que as operadoras de planos de saúde, sempre que solicitadas, devem divulgar a quantidade ou percentual de cada tipo de parto feito pelos médicos e hospitais. O pedido deve ser feito diretamente com as operadoras e pode ser respondido em até 15 dias úteis.
A situação e o local em que se prefere ter o bebê: no hospital, em casa ou com parteiras também devem fazer parte dessa conversa. Há médicos que aceitam fazer partos domiciliares e outros não. Vale ressaltar que o Conselho Federal de Medicina não aconselha e nem se responsabiliza por procedimentos feitos em casa e com parteiras. Eles só recomendam partos em ambiente hospitalar por ser mais seguro. Por isso, é fundamental encontrar um obstetra que entenda e apoie a decisão para orientar com transparência e segurança. Procure saber em quais hospitais o médico é credenciado. Verifique a disponibilidade do especialista em passar os telefones de contato, se é possível ligar fora do horário comercial, se responde a mensagens, WhatsApp…
Sem medo da troca
Antes de bater o martelo, é preciso que o casal esteja convencido de que encontrou o profissional certo. Se não houve empatia e confiança durante o bate-papo, ou se algo no meio do caminho saiu diferente do que imaginava, procure outro especialista. A jornalista Suelen Rodrigues, 34, trocou de obstetra seis vezes. “Não fiquei à vontade com alguns, outros não compartilhavam da mesma opinião que eu. Quase troquei pela sétima vez na véspera do parto. Mas, no final, fiquei satisfeita”, conta a mãe dos gêmeos Eduardo e Gabriel, 1 ano. Já a manicure Monalisa Silva, 31, mãe de Lucas, 3, teve que mudar porque descobriu que o seu médico não atendia convênios. “Foi difícil, pois eu confiava muito nele e não queria trocar. Procurei outro que até me convenceu a ter um parto normal. Foi uma experiência incrível”, diz. E, atenção! Não é porque a gestante tem um ginecologista que a assiste sempre que deve optar por ele. Com a convivência mais de perto, ela pode achar que o profissional não é ideal para esse momento. Foi o que aconteceu com a farmacêutica Joana Medeiros, 35, mãe de Felipe, 3. Ela adorava o médico que a acompanhava desde os 20 anos, mas achou melhor trocar quando percebeu que as ideias dele não estavam em sintonia com as dela. “Estava decidida a procurar uma casa de parto, mas ele não aprovava a ideia. Então, por meio de uma indicação, encontrei um obstetra que aceitou a minha decisão”, lembra.
“No brasil, a taxa de cesárea é de 84,6% nos serviços privados e de 40% no sistema público.”
Fonte: Ministério da Saúde
Converse sobre o plano de parto
O índice de cesarianas no Brasil é três vezes maior do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Para barrar as cirurgias desnecessárias e, muitas vezes, feitas contra a vontade dos próprios pais, existe o plano de parto. Trata-se de um documento informal no qual os pais registram as suas preferências antes, durante e depois do nascimento. A prática surgiu nos EUA há décadas e pode ser elaborado em conjunto com o obstetra. Portanto, converse com o especialista sobre isso, pois o ideal é que ele esteja pronto até o sétimo mês. Na carta, o casal define questões importantes, como a presença de outras pessoas na sala, a posição que a mãe considera mais confortável, entre outros. Veja um exemplo, escrito por Ana Cristina Duarte e Simone Diniz, no livro Parto Normal ou Cesárea (Ed. Unesp).
Parto normal pago à parte
É importante questionar o obstetra sobre a polêmica taxa de disponibilidade, valor pago à parte que assegura a presença do médico durante o parto, não importa a data ou horário. Embora seja considerado ilegal e abusivo pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, já que o convênio paga cerca de R$ 500 por procedimento, o Conselho Federal de Medicina tolera esse tipo de prática, pois entende que a quantia é baixa para os obstetras. Com isso, os profissionais costumam pedir “por fora” até oito vezes mais do que esse valor. Portanto, toque nesse assunto para deixar tudo às claras, não ter surpresas depois e decidir se vale ou não a pena ficar com o médico.
Os obstetras e as doulas
Aceitar a doula na hora do parto ainda não é um consenso entre os médicos (converse sobre esse seu desejo já na primeira consulta!). Assistente do parto, ela é responsável por acompanhar a mulher durante toda a gestação, oferecer apoio emocional, tirar dúvidas e até fazer massagens para amenizar as dores. Não existe uma lei federal que regula a participação delas nas maternidades brasileiras. Segundo o Ministério da Saúde, cabe aos estados e municípios permitir ou não. No Rio de Janeiro, a lei no 7.314 garante a presença dessas profissionais em maternidades, casas de parto e hospitais das redes pública e privada. Outros dois estados já se posicionaram a favor das doulas: Santa Catarina e Rondônia. Em São Paulo, um projeto de lei está em fase de discussão.